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10-maio-2021

Podcast “Pontos Por Soldar” | Eng. Luís Mira Amaral, Antigo Ministro da Indústria e Energia

Podcast, Indústria Metalomecânica

Neste episódio do podcast, falámos com o Eng. Mira Amaral sobre temas como a descabornização e a importância de clusters no tecido empresarial português.

Pode ouvir o episódio na íntegra no Spotify, iTunes, Soundcloud ou Deezer e ainda em vídeo no nossa canal de Youtube. Em baixo, pode ler-se alguns pontos altos desta conversa.

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André Ferreira (AF): Para começarmos a nossa entrevista, e antes de falarmos da Motofil e da Indústria em geral, eu quero fazer uma pergunta sobre a atualidade. As questões da emissão de dióxido carbono, ou do aquecimento global, tem estado cada vez mais em discussão na atualidade, não só numa prespetiva de governo, não só numa prespetiva da comunidade em geral, mas também para os industriais. A principal fonte de emissões é a produção de energia, e para modificarmos isto temos de adotar novos processos produtivos, e modificar como fazemos as coisas, como produzimos os nossos produtos. Qual é a opinião do Eng. Amaral sobre como a indústria portuguesa pode, de alguma forma, reestruturar-se para reduzir a sua pegada ecológica. 

Luís Mira Amaral (LMA): (...) Devo dizer que Portugal emite apenas 0,11% ou 0,12% do CO2 mundial e, portanto, o problema do CO2 mundial não se resolve a não ser que haja um acordo entre  os grandes poluidores. Os grandes poluidores são os Estados Unidos, a China e a India. A União Europeia apenas emite 8% do CO2 mundial, portanto essa ideia de que a União Europeia sozinha resolve o problema mundial é totalmente errada e Portugal é um pequeno país cuja emissão é perfeitamente irrelevante no contexto mundial (...)Há muitas [empresas] que estão a investir e bem nos painéis fotovoltaicos, para produzir energia para autoconsumo o que eu acho que é um ideia excelente. Devem melhorar os seus esforços de eficiência energética, e devem aderir aos conceitos de economia circular em que nós, cada vez mais, devemos produzir com a preocupação de depois puder reciclar e reutilizar aquilo que foi produzido. (...) No caso português, há outro problema que ainda se põe de forma cadente que é a pequena dimensão de muitas empresas. Temos um tecido empresarial formado por empresas de muito pequena dimensão, dimensão mínima muitas vezes, que não têm escala para fazer investimentos no domínio da produtividade, da digitalização ou até da internacionalização. E por isso, eu estou farto de dizer que mais vale um empresário ter 20% de uma coisa que vale dinheiro do que ter 100% de uma coisa que vale pouco, portanto os esforços de concentração empresariais são muito importantes ainda no nosso pais. 

 

AF: (…) A partir do momento em que a China e os EUA tomam alguma iniciativa para a descarbonização isso vai se refletir na indústria portuguesa?

LMA:  (...) devemos apanhar a boleia e aproveitar as tendências mundiais, o que lhe digo apenas é que, em termos de regulação de co2, não é Portugal sozinho que vai contribuir para isso. Tudo o que eles fizerem de bom nessa matéria a gente depois aproveita e deve aproveitar. 
(...)

 

AF: Pensa que esse é um dos problemas que estamos a viver na sociedade hoje em dia? O know-how que é produzido em Portugal está a sair? 

LMA: Não me preocupa nada que os jovens que se formam em Portugal vão para os estrangeiro numa primeira fase, a questão que eu ponho é se o país está capacitado para depois os atrair, numa segunda fase, a voltarem a Portugal. Porque se eles forem numa primeira fase trabalhar no estrangeiro e conhecerem o mundo, se conseguirmos que eles regressem a Portugal, regressam com outra visão do mundo, outra capacidade e outra competência internacional que é muito útil no desenvolvimento das empresas portuguesas da economia global. A mim não me preocupa nada que eles numa primeira fase vão  para o estrangeiro, o que me preocupa é se depois o país não tiver empresas e oportunidades para os fazer regressar e reter em Portugal numa segunda fase. 
 

AF: (...) Gostava de lhe falar, ou de lhe perguntar, sobre o famoso relatório de Porter. Sou um grande fã de Michael Porter e sei que durante o seu exercício no governo de Cavaco Silva, encomendou o tal relatório sobre como poderiam, de forma estratégica, potenciar alguns clusters portugueses. Sei que agora há uma intenção de revisão deste relatório. (...) O que é que Portugal necessita a nível industrial para ser mais competitivo?

LMA: (...) O que acontece é que quando o Professor Porter vem a Portugal e a meu pedido se elaborou o relatório de Porter, nós tínhamos alguns setores industriais que não podiam ser esquecidos que são os setores industriais tradicionais, como é o caso do têxtil, o vestuário, confeções e calçado. Havia aí uma mania de alguns de que, isto do tradiciona era obsoleto, é para desaparecer, e só se preocupavam com eletrónica ou modelos de Silicon Valey. O professor Porter veio-me ajudar. Veio dizer em inglês aquilo que eu dizia em português, que no fundo é que o setor industrial tradicional não é um setor obsoleto, é um setor que faz parte da nossa tradição e temos de conciliar a tradição desses setores com  a sua capacidade de inovação. (...) o pais felizmente já evoluiu e está muito melhor do que estava há 30 anos quando eu trouxe o [Professor] Porter a Portugal. Para mim, faz todo o sentido revisitar o projeto de Porter para continuar a apoiar não só os clusters tradicionais, mas também estes clusters tecnológicos que hoje em dia já existem (...).

 

AF: E, como sabe, a Motofil é uma empresa familiar, e existe uma dimensão cultural muito forte aqui. Vê essa mesma dimensão noutras empresas ou aplicada mesmo ao tecido empresarial português como algo que puderá reduzir a velocidade da clusterização em Portugal ou algo que até poderá ajudar a clusterização em portugal?

LMA: No mundo de hoje nós não podemos ter uma visualização individualista (...) a própria noção de cluster, implica uma colaboração entre empresas e instituições de uma dada região que trabalham em conjunto, que coperam para se desenvolverem, e portanto o modelo de hoje, muitas vezes a gente tem de cooperar numa fase pré competitiva para depois competir na fase final. É fundamental que mesmo as empresas familiares tenham uma visão de cooperação e colaboração com o outro, para se puderem desenvolver (...) As empresas familiares no fundo, têm uma cultura, um conjunto de valores, que é instilada pela família, que são muito uteis ao desenvolvimento empresarial. 
(...)

 

AF: Quais são as suas prespetivas para o futuro? 

LMA: Bom, já lhe disse que há aqui duas grandes tendências que as empresas portuguesas têm de seguir. Tendências mundiais que são irreversíveis, que é a questão da transformação digital, com o modelo de industria 4.0, e o problema da transição ecológica que obviamente devem ser refletidos nos investimentos de energia e na preocupação com a economia circular. Cada vez mais, ter gente qualificada, quadros altamente qualificados, nas empresas para se desenvolverem. Como nós infelizmente temos empresas de muito pequena dimensão, há aqui todo um movimento de concentração e de cooperação digital que é obsolutamente necessário face aos dias de hoje. Porque, felizmente, nós já precebemos que não temos o mercado português, muitas vezes temos o mercado ibérico ou o mercado mundial. Portanto, a nossa competição é à escala ibérica, europeia ou mundial e já não é à escala meramente portuguesa. 

 

O "Pontos Por Soldar" é um podcast produzido pela Motofil com o objetivo de abordar diferentes assuntos sobre a Indústria Portugues, nomeadamente a Indústria Metalomecânica.

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